Quais jogos de escondidas... quais quedas de carrinhos de compras... nada comparado com uma queda aparatosa de trotinete numa descida de acentuada inclinação!
O protagonista: o menino Santiago! E por teimosia, pura teimosia!
Fomos até à terra dos avós. Era a festa da aldeia. Levámos as trotinetes, aliás como costumamos levar sempre, para andarem entretidos (sob vigilância).
Ora o que mais há na terra de ambos os avós é descidas inclinadas, rampas e ribanceiras, não compatíveis com trotinetes e veículos afins à velocidade luz!😐
Se o menino Santiago não fosse teimoso, fazia tudo o que as sua mãe lhe dizia sem contrariar. Mas como é confiaçudo, acha que é capaz de tudo... até de descer em cima da trotinete em uma descida bastante inclinada, sem que nada lhe aconteça!
Mesmo depois de o avisar "Aqui na descida não subas para cima da trotinete. Levas a trotinete na mão e lá em baixo, que o pátio é direito, andas".
Fiquei a vê-lo até meio da descida. Estava a fazer o que lhe mandei. Confiei.
E assim que virei costas, fez precisamente tudo o que lhe pedi para não fazer. Deu mau resultado! Péssimo resultado! Mas desafiar a lei da gravidade deve-lhe ter parecido uma tentação naquele momento!
Foi o tempo de ir buscar o carro que estava estacionado mais à frente para os ir buscar para irmos dar uma volta enquanto o pai ficava a tratar da organização de um Torneio de Sueca.
Assim que chego com o carro ao recinto, vejo o pai com o Santiago ao colo a gritar "Pára o carro. Pára o carro". E oiço alguém dizer-me "Tem calma e não olhes". E repetiu: "Tem calma e não olhes."
Como não olho, claro que olho! Quando olho, quase que desmaiei... mas numa fração de segundos o corpo reagiu e só pensei no meu filho, em socorrê-lo o mais depressa possível. Sentá-mo-lo no carro devagarinho. Eu sentei-me atrás ao pé dele e o pai ao volante. Prego a fundo para o hospital mais próximo que ainda ficava a uns 70 quilómetros da aldeia.
Foi uma viagem de 25 minutos, terrível ... Não porque o meu filho estivesse a chorar de dores, porque não estava. Estava assustado de ver o estado da mão esquerda e de me ver a mim com tanta aflição...
Nunca me senti tão mal disposta na minha vida, nunca suei tanto, nunca tremi tanto de medo de aflição e só pensava o porquê de ele me ter contrariado, porque é que não fiquei a vê-lo até ao fim da daquela descida inclinada...
Não conseguia controlar o tremor do meu corpo... toda eu tremia...
Já no hospital fomos logo atendidos e vistos pelo médico. Diagnóstico: uma fractura exposta do pulso. A melhor opção: o bloco, com anestesia geral.
E o Santiago portou-se melhor do que a mãe e encarou a situação como um homenzinho. Só chorou quando lhe tocávamos no braço, quando lhe puseram as ligaduras na outra mão para segurar o catéter, e quando lhe fizeram o raio x.
Esteve um pouco impaciente desde o momento do raio x até ir para o bloco. Isto porque tivemos que aguardar até que ele pudesse ser anestesiado. E aguardamos junto ao gabinete médico.
Naquele dia apareceram nas urgências daquele hospital uma série de meninos com dedos, braços cotovelos e pernas partidas... Entravam para o gabinete, gritavam de dor e saiam de lá engessados.
Ele ouvia e via. Dizia que não queria aquilo e que não queria.
Pensei: "Quando acordar isto vai ser terrível. Vou me ver aflita com ele porque ele vai querer tirar tudo."
Mas as crianças surpreendem-nos sempre...
Acordou por volta das 3h30 da manhã, tranquilo. Perguntou onde estávamos. Expliquei-lhe. Respondeu baixinho a sussurrar: "Pensei que estávamos na nossa casa, mamã". Chamámos a enfermeira. Disse que tinha sede e que tinha fome. Comeu e conversou, conversou.
Voltou a adormecer por volta das 5 da manhã e no outro portou-se tão bem. Fez tudo o que as enfermeiras pediram. Brincaram com ele e ele esteve sempre bem disposto.
Por ter sido uma fractura exposta havia o risco de infeção. Por isso, tivemos que fazer 72 horas de antibiótico. Foram 4 dias no hospital.
Já estamos em casa... e o resto da semana fez repouso. Para a semana, irá ficar uns dias com o avô outros irá com o pai para o trabalho, talvez vá à escola. Tenho algum receio porque ele às vezes esquece-se.
Acho-lhe piada porque continua a querer fazer tudo sozinho, mas há coisas que não consegue!
Em novembro vai tirar o gesso e será seguido neste hospital, que por sinal é um hospital público e que foi simplesmente extraordinário.
❤
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