Aconteceu novamente...

Há uns dias que não publico... não fui capaz...
Não fui capaz porque em todos os bocadinhos livres que tive durante estes dias, estive viciada nas redes sociais e nos ecrãs de televisão, na anseia de saber notícias do concelho do meu coração, a Pampilhosa da Serra.

O fogo assolou tudo. Levou tudo à frente, sem pudor. E desta vez não se conseguiram salvar casas. As notícias dão conta de duas centenas e meia de casas ardidas, muitas de primeira habitação. Estima-se que o número de casas ardidas, só neste concelho, ascenda às 500.
Desta vez, o fogo ceifou uma vida.

Catorze viaturas e 57 bombeiros para um concelho de quase 400 quilómetros quadrados. Não, não tinham como chegar a todo o lado. E mesmo que chegassem não conseguiriam travar o fogo, tal era a sua dimensão e velocidade. Alguns dos relatos que fui ouvindo o confirmaram.

Não tenho palavras. Não consigo imaginar o sofrimento destas pessoas e arrepio-me com os relatos que vou ouvindo na televisão.
No país morreram, desta vez, mais 43 pessoas. A juntar aos 64 do fogo que assolou o centro do país em meados de junho. No total, perfazem 107 (até à data).

No domingo estive lá perto. Estava um calor anormal para época e mesmo que fosse da época, era muito calor. Vi os focos de incêndio a alastrar a uma velocidade tremenda e a ganharem uma dimensão assustadora, vi e ouvi o barulho das labaredas a quilómetros de distância (talvez uns 20) e senti o vento que se levantou ao final da tarde... Um cenário que tinha todas as condições para se tornar devastador.

Pelo o caminho até Lisboa, vimos várias colunas de fumo, negras, e algumas estradas cortadas. No dia seguinte, ouvimos falar em mais de 500 ocorrências. Era, sim, impossível chegar a todo o lado.

Se podiam as nossas corporações ter feito mais, se podiam os comandantes dos centros de operações terem tomado outras decisões?  Podiam, claro que podiam!
Todos podemos sempre fazer mais e melhor. Acredito que fizeram o melhor que podiam no momento do desespero, em que é sempre difícil pensar com racionalidade.

Não quero, contudo, desvalorizar o trabalho dos bombeiros, porque eles sim são uns heróis que deixaram as suas famílias para socorrerem as famílias de desconhecidos e enfrentaram este "Adamastor", pondo as suas vidas em perigo! E se não fizeram mais é porque realmente a condição humana não permite. Sim, porque eles apesar de serem seres cheios de coragem, também são humanos!

E dizem ser apoiados por um sistema de comunicações denominado SIRESP. Já não sei precisar há quantos anos, sempre que há incêndios no nosso país, oiço notícias de que o SIRESP funcionou mal ou simplesmente não funcionou. Como pode um sistema deste género, por mais inovador que seja,  funcionar em locais que NUNCA, mas NUNCA, tiveram rede móveis de comunicações de qualidade? Recordo a Pampilhosa ficou completamente isolada. Nós os de cá entrámos em desespero porque não conseguíamos comunicar para lá.

Há muitos anos que o nosso país não ardia como ardeu este ano. Há muitos anos que a floresta estava esquecida. Porque a evolução assim o ditou. Porque antes tínhamos pessoas que cuidavam da terra e faziam disso o seu sustento. As aldeias estavam povoadas e por consequência as terras à volta cultivadas e tratadas. Hoje, não temos nada disso. E as terras estão esquecidas e desprotegidas.

A Ministra da Administração Interna demitiu-se. Mas pergunto se ela se tivesse demitido há quatro meses atrás, será que isto não tinha acontecido? E agora o problema está resolvido com demissão dela? Com a demissão dela, estará também demitida a responsabilidade política do governo? Será que não vai voltar a acontecer?
Bem talvez não, acho que já ardeu tudo o que havia para arder, ou quase tudo, pelo menos naquela zona! Ouvi nas notícias que este ano já arderam 520 mil hectares em todo o país, mais de metade da área ardida em toda a União Europeia.

Nunca entendi esta necessidade de arranjar sempre um culpado a quem cortar a cabeça.
Esta é uma daquelas situações em que a culpa morrerá solteira, porque na verdade a culpa é de todos nós.

Sim, porque não terá sido só culpa do governo, deste ou dos outros, que não tomaram medidas corretas em relação à floresta, ou que não se preocuparam em ordenar e proteger. É também nossa, pessoas comuns, que não respeitámos. Dos que fazem queimadas e fogueiras em alturas menos adequadas, dos que fazem piqueniques e deixam lixo no local, dos que constroem lixeiras a céu aberto em espaços florestais recônditos ou dos que atiram beatas para o chão em zonas florestais e podia continuar ... um rol de atos irrefletidos ou refletidos sem a mínima noção de civismo.

Já para não falar dos loucos incendiários ou dos negócios do fogo... Somos um país de floresta, e em consequência do lucro e da ganância, sim, acredito existir toda uma indústria do fogo, que me parece a mim que está a crescer e ficar cada vez mais gananciosa, que não olha a meios nem fins para atingir objetivos. 500 ocorrências num só dia, parece-me excessivo. Sem dúvida que terá sido mão criminosa. E duvido que existam no nosso país 500 loucos incendiários que se lembraram todos do mesmo, no dia 14 de outubro.

Estavam reunidos um conjunto de fatores para este cenário. Incêndios semelhantes àqueles que acontecem em países de grandes dimensões como o Estados Unidos da América ou a Austrália.
A única diferença é que somos um país pequeno e que isto terá para nós repercussões mais sérias a curto e longo prazo, tanto no ambiente como na nossa economia, do que tem este tipo de acontecimento/tragédia nestes países.

Centenas de pessoas perderam tudo, não lhes restou nada a não ser a roupa de corpo e a boa vontade alheia. O que nos vale é que somos um povo altruísta.

No pior cenário e com coração cheio de tristeza, fico feliz de sermos um povo que dá a volta por cima nas situações mais difíceis, que se voluntaria, que dá sem olhar a quem... e isso apazigua.

Proliferam já por aí campanhas de reflorestação, petições, manifestações. Deixo-vos alguns links para que possam saber informações e se quiserem contribuir saibam onde se dirigir.
E se passarem pela zona afetada, plantem uma árvore. Se todos o fizermos, o verde voltará a renascer!



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